O preso jaz, olhando a vida que viveu e a que vive, no mesmo lugar. As janelas, pequenas. As grades apertam. Barras para que pessoas não passem, contramedida a atos ilegais ou atentatórios à vida, originados do próprio passante. A luz que entra é pouco para iluminar a sombra, de insuficiente calor para o frio do cômodo. Vêm os barulhos de fora. Trem, ônibus, escapamentos jumentos, burburinhos econômicos.
O pátio é curto. Tem muros, tão altos.
Os vizinhos se comunicam, até sem querer. Gemidos, lamentos, discussões, euforias e razões. Evangélicos, ateus, trabalhadores, proteladores, há de tudo um pouco. Vez em quando se ouvem latidos, visitas, diálogos no eco do corredor.
Tudo no conjunto é pago, e o responsável geral, quase sempre corrupto.
Vários metros acima da terra, muito longe do céu. Tão distante da imensidão, onde o horizonte é sempre inalcançável, tênue ilusão.
Não há espaço, nem rio ou campo, contato com as matérias das quais somos feitos. As dimensões, de concreto; as minhas, de terra. O líquido vital corre de caixa em caixa. Em mim, de gota em gota. O calor vem por tabela, o meu emana em direto. O ar é condicionado, e eu sou feito de vento.
Viver em apartamento é um tormento.